Eu ainda adoro quando ela sorri.
Mas descobri que, ironicamente, eu gosto muito do som do seu riso, mas quando
ele vai acabando. O seu tom diminui. Sua voz já não tem nenhum traço de qualquer
sentimento ruim. E ela passa a ser um exemplo perfeito da “inflexão do
sorriso”. Eu quase posso dizer, que nesse momento, ao ouvir sua voz e olhar seu
sorriso, eu não negaria nenhum pedido seu.
Adoraria dizer que já sei o que
se passa em seu coração. Mas minhas reflexões só me levaram a entender que eu
não preciso entender. Ela é apenas quem ela quiser ser. E cada um terá dela o
que merecer. Isso soa quase clichê, eu sei. (Mas foi bonitinho, rimou até) Mas
estamos falando de uma pessoa aqui. A complexidade caminha junto dos padrões
universais.
Não quero que pareça que eu
desisti de entende-la, nem qualquer coisa do tipo. Eu ainda gosto dela. E ainda
acho válido tentar conhecer mais daquilo que ela guarda só para si. Das coisas
que a fazem ser quem é. Em certo momento achei relevante apenas mudar a
abordagem. Chegamos ao ponto das perguntas diretas. Não que tenham sido tão
reveladoras assim....
- O que você pensa sobre isso...?
– era algo relevante apenas na hora, então não preciso especificar a pergunta
agora. Afinal, interessante foi sua resposta:
- Não sei.
- O que acha daquilo? – eu
insisto em insistir.
- Sei lá... – ela respondeu de maneira natural, e eu quase acreditei que ela
não tivesse mesmo qualquer opinião sobre o assunto.
- Você vai me dar alguma resposta
que não seja “não sei”?
- Não sei.
- Por que?
- Por que não. - Essa foi, devo
admitir, diferente...
E ela riu de novo. Fui vencido
pelo cansaço.
Falar na terceira pessoa ainda é
uma característica cativante que ela possui. Posso afirmar que é algo que lhe
distingue de qualquer outra. E ela conseguiu evoluir isso. Devo admitir que no
início me senti excluído, pois quando dei por mim estava no meio de uma discussão
que ela tinha consigo mesma. Só me restava apreciar a sutileza com que usava
uma bela retorica em voz alta, abordando o que pretendia fazer, e rebatia de
maneira eloquente o seu próprio argumento. O que me pareceu completamente lógico,
e muito inteligente ainda mais quando no fim ela venceu o debate.
Eu aprendi, (ou quase isso)
recentemente, que se deve viver o momento em que se está inserido, totalmente.
Não se deixar distrair e com isso perde-lo por qualquer motivo. Viva plenamente
e aproveite cada segundo dos momentos que sabe que serão únicos. É algo
complicado de se fazer. É difícil aceitar tal filosofia, e tentar não se deixar
levar por sentimentos conflitantes. Imagine que eu me vi assim enquanto
dialogava com a garota. Eu sei da importância de se aproveitar as boas
companhias, mas a plena atenção é ainda mais complicado para mim, quando assumo
como missão, compreender as ações dela.
Ela se aproxima com um lanche
qualquer, seus passos sempre decididos. Não reconheço real pressa em suas ações.
Mas ainda assim são rápidas, e imperativas. Um reflexo, eu imagino, de seu
subconsciente que deseja transparecer a todo instante plena certeza sobre todos
os seus atos. Eu recuso sua oferta em dividir, e repito a negativa em todas as
suas insistências. Me divirto contrariando-a de maneira tão boba.
Eu a observo, enquanto ela me
conta sobre sua última frustração. É algo relativamente banal, mas ela expõem
de maneira que eu me vejo com raiva do terceiro personagem de sua história.
Isso me diverte, e a ela também. E surpreendentemente ela conclui dizendo que deixou
passar, não está mais com raiva e conclui tomando apenas nota mental de que
algo do tipo nunca se repetirá. Eu sei que não preciso opinar, então me perco
mais uma vez pensando, enquanto ela come. Fico tentando arranjar explicações e
quem sabe padrões que justifiquem seus julgamentos e suas frustrações. Mas a
resposta não vem. E finalmente entendo, que ela não precisa vir.
Eu tenho minha opinião sobre suas
ações, mas ela nunca me pediu por isso.
Acho que nem me pediu que a escutasse, eu fui um ouvinte voluntário.
Tudo que sei sobre ela se mistura e então toma forma, e finalmente tenho meu insight a seu respeito: por mais julgada
que ela possa ser, ela não se abaterá com isso.
Quando essa ideia finalmente se
acomoda em minha mente, percebo que o tempo voou, e ouvi sua risada menos vezes
do que gostaria. E a data para um próximo encontro é completamente incerta.
Isso me aborrece, mas dessa vez bem menos. Pois agora eu tenho uma certeza
sobre ela. A certeza de que ela
permanecerá como é, fiel a si mesma e seus princípios, não importando os olhares
recebidos. Tenho plena consciência agora, de que seu jeito não pode ser visto
apenas como uma consequência de seus sentimentos, mas sim uma parte de quem ela
é.
Ainda não saberei seus motivos
secretos, das coisas que guarda para si e das que a machucam. Talvez eu não
possa “entender”. E tão pouco acho que conseguirei uma resposta melhor do que o
“não sei” quando se tratar da sua opinião sobre determinados assuntos.
Entretanto, permaneço muito interessado nela. Afinal quem sabe o que o futuro
reserva? E o que ainda pode acontecer? Ainda anseio conseguir melhores
respostas. Mas já me contento em não receber os nãos.
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